segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Odeio a chuva*



Odeio chuva, mas ninguém sabe porquê.
Talvez pensem que é pelos motivos mais óbvios. Mas não odeio chuva porque me estraga o penteado ou molha as roupas, mas porque....

"Eram 8h30, dormia tranquilamente.. ouço um som irritante que me desperta um pouco... Olho para o visor do telemóvel meio desfocado e vejo que é a Aurore, atendo.
-O que se passa? Estava a dormir...
-Isabelle... (Soluços)
-Que se passa? (Digo meio surpresa)
-É a Carolane...
-Que tem a Carolane (Já bem desperta)
-Faleceu... (Choro forte)
(Salto da cama meio parva como tudo aquilo)
-Como assim, não pode ser, impossível! (Incrédula)
-É verdade... Infelizmente é mesmo verdade Belle! 
-Como é possível? (Longa pausa)
Aurore dá-me 30 min e liga-me!

(...)

Enquanto a água caia sobre a minha cara, só pensava que tudo aquilo só poderia ser um sonho mau e que o telefone não ia tocar de novo...

Começa a tocar a música Tonight, tonight dos Smashing Pumpkins do meu telemóvel....Olho pro ecrã, era a Aurore.

-Ela ligou mesmo, isso significa.. (apoio as minhas mãos sobre o lavatório e faço um esforço para não perder as forças... pois sei que mais lágrimas não ajudam)
Atendo, com a voz meia "quebrada" e do outro lado, só oiço soluços fortes, e uma voz engasgada!
-Aurore, como aconteceu isso? (Completamente seca)
-Foi um acidente de viação, ia com o namorado, um camionista em contra-mão bateu-lhes...
-Ela sofreu? 
-Não, teve morte imediata! (Voz baixa e trémula)
-Pelo menos isso, obrigada por me teres dito!
-Tinha de te dizer, eram as melhores amigas!
-Acabei de morrer Aurore! Adeus, e mais uma vez obrigada!
-Força amiga, adoro-te!

(...) Quando desliguei entrei em mim, era real, era verdade, não era só um pesadelo mau. Sentei-me à Janela Chovia imenso, o céu estava coberto de nuvens negras, a combinar com todo aquele ambiente frio, escuro, e molhado.. Era um dia negro portanto. Era a primeira vez que assistia a um momento daqueles e para mim era o pior começo de todos. Vesti umas jeans pretas e uma camisola preta, estava coberta de preto por fora e por dentro também, pois para mim era como se uma parte de mim parti-se também.
A minha mãe chegou ao meu quarto e disse que sabia o que se tinha passado
Baixei a cabeça para que as minhas lágrimas não piorassem mais a situação, ela limpou-me as lágrimas e disse: 
-Nunca te vi chorar
-Não choro por razões banais apenas por coisas que são realmente importantes para mim
Ele abraçou-me e disse:
-Eu sei meu amor! Sempre soube que para lá de toda essa frieza e revolta eras humana e sentias como qualquer um, és uma boa menina minha Sónia Isabelle.
 Passei a minha mão no seu rosto frio e limpei-lhe as lágrimas que caiam após aquelas palavras e baixei a cabeça. 

(...)

Depois de sai de casa, andei meia sem rumo, sentei-me num banco de jardim, acendi um cigarro para me acalmar..
Fiquei ali a chorar, começou a chover, e deixei-me ficar...
Odeio chuva porque choveu tanto naquele dia que todas aquelas lágrimas sentidas não se ouviram cair no chão apenas se misturavam com a chuva..
Odeio chuva porque chovera logo naquele dia, preferia mil vezes que fosse um dia de vento, pelo menos o vento secaria as lágrimas de todas aquelas pessoas que choraram pela perda de alguém muito importante. O vento poderia nos alucinar com a sua presença limpando-nos as lágrimas como quem diz: "Não chores, eu estou aqui".
Ali parecia que me ia afundar nas minhas próprias lágrimas! 
Odeio a chuva porque cada vez que caí me traz a memória daquele dia negro e sombrio, o dia da sua morte! 
Odeio a chuva porque lavou o sangue que ela jorrou até ficar oca...
Ele devia ter ficado marcado naquele chão, em memória a ela!!

Odeio a chuva porque ela causou o despiste do camionista, e no dia 5 de Fevereiro de 2009, fez-me perder a minha melhor amiga!!
A minha Carolane Sophie Dubeux