quarta-feira, 18 de março de 2020

Senhor Dr. Covid-19

Esta é a crónica sobre algo que já estava anunciado e previsto na literatura e no cinema, mas que foi classificado na sessão de "Ficção cientifica".
Assistimos desde Dezembro do ano passado o que acontece na China mas, na realidade, só começamos a ficar assustados quando o Sr. COVID chegou e devastou "Nostra bella Italia".
Desde aí sabiamos,  que dia menos dia chegaria a nós, somente não o queriamos aceitar. 
O ser humano têm sempre a tendência de desvalorizar o perigo e achar: "Connosco isso nunca acontecerá!".
Talvez nem sequer quisessemos querer, embora pretendessemos que sim, como que mergulhados numa imagem futurista retirada das descrições de um texto de Orwell. "Isto não pode estar a acontecer", diziamos a nós próprios, como que um doente em fase de negação.
As mensagens, desde o príncipio eram tão incertas, que nem tão pouco poderiamos imaginar que o assunto "Covid-19" chegaria a este ponto. Ao ponto de hoje se estar a discutir se o País entra em Estado de Sítio.
As vozes autorizadas das autoridades sanitárias aconselhavam-nos a ter calma, a não ficarmos alarmados, afinal "era um vírus muito pouco próvavel de chegar a Portugal", e "Portugal estava altamente preparado para lidar com um surto destes uma vez que tinha ao seu dispor 300 camas de hospital livres a nível nacional".
 Entre isso, e os jornalistas, plenos de responsabilidade, alternavam entre mensagens de sossego, para não alarmar o povo disposto a lançar-se aos supermercados e a saquear todos os bens como se o mundo fosse acabar e mensagens de alerta, a final o perigo estava por aí à espreita.
Então quando menos esperavámos - ou talvez justo no momento em que estavamos convencidos de que poderiamos escapar - trazem os meios socias as más novas, Portugal tinha o seu primeiro caso de Covid-19 confirmado após inumeras análises com resultado negativo. 
Entretanto o Covid-19 cresceu, mudou de estatuto passou de malvada Epidemia a Pandemia vilã.
Começou a caça aos numéros, de quem era o culpado, quem trouxe o vírus, o pánico começou a instalar-se e saíu a primeira fornada de medidas de contenção decretadas pelo nosso Governo após rapidamente termos visto o flagelo que estava a acontecer em Itália, Alemanha, França e aqui ao lado, aos Nuestros Hermanos Espanhóis. Portugal não quer isso, ninguém quer ter de dar a notícia aos seus cidadãos que num só dia morrerem 250 pessoas.
O Governo decidiu,  legitimamente, antecipar as férias da Páscoa, aconselha-se o isolamento voluntário, convida-se a adaptar o trabalho presencial para um trabalho elaborado à distância.
 Numa questão de poucos dias, adeus às missas, à semana santa, as festividades locais, municipais e nacionais e de repente, o país passa a trabalhar a meio gás, aliás num ritmo que marca toda a Europa, as bolsas europeias caem à pique, lança-se o pánico económico, entra os BCE, FMI e Governos: "Não se preocupem, vamos injetar a liquidez monetária suficiente para assegurar a estabilidade financeira", "as empresas poderão pagar as suas contribuições fiscais mais tarde".
Ouvimos coisas como: "Portugal e os Portugueses estão a demonstrar um comportamento exemplar", entre nós: excepto pelos atrevidos que foram para o caís do Sodré e para a praia de Cascais. Esses rebeldes!
 Portugal está semi-parado e segundo as previsões mais otimistas seguirá assim para além dos 15 dias assinalados, uma vez que no melhor dos cenários o pico desta Pandemia será em finais de Abril.
E desde o meu pequeno refúgio, onde estou em isolamento, tenho os meus vários heterónimos que vêm à superficie, ora todos juntos, ora cada um na sua vez:
Aquela que é a Filha, que se inquieta pelos seus pais que são mais velhos e com uma saúde mais debilitada, essa sente-se impotente e medrosa, afinal este vírus dizem ser bem mais letal para as faixas étarias mais velhas. Para ela, fecha tudo, entra em pánico, não saí de casa.
Depois é a Cidadã, Para esse meu heterónimo, o Governo não faz o suficiente, deviam fazer mais, tudo é insuficiente, tudo está errado, deixem cair o céu e a marinha mas protegam os seus cidadãos, assegurem-se de mitigar e dissiminar o vírus para longe, afinal assegurar a Saude Pblica e a segurança dos cidadãos é bem o vosso trabalho.´Fechem as fronteiras, isolem as pessoas, façam acontecer magia.
Depois a Diabética, a que em pánico fez o seu stock de medicação para 6 meses e que o medo assusta um pouco mais, afinal diabéticos fazem também parte de grupos de risco mais elevado.
Depois existe também a Jurista, essa análisa as medidas de contenção de outra forma, para essa declarar um Estado de sítio e emergência não deve ser feito de forma leviana, afinal estamos a falar que vamos restringir direitos fundamentais dos cidadãos, algo que se encontra previsto na Constituição no seu artigo 19.º, mas que desde a Revolução dos Cravos nunca foi colocado em vigor.
Para a jurista devemos atender ao que está na lei, e nunca nos podemos esquecer que cada restrição de um direito fundamental têm de respeitar os princípios fundamentais presentes no art. 18.º da CRP. como o príncipio da proporcionalidade, da adequação e da necessidade.

Todos os meus heterónimos concordam no seguinte:
Temos de levar este assunto muito a sério, e somente se todos adotarmos os bons comportamentos sanitários e socias poderemos mitigar mais facilmente este vírus.
Temos de agir civicamente, não nos colocarmos em risco, uma vez que esse risco será transversal a terceiros.
Temos de ser um por todos e todos por um. 
Na história da humanidade já atravessamos crises idênticas, em condições bem mais adversas. Sem informação nem meios cientificos.
Estamos no século XXI e a nosso favor temos um conhecimento e meios cientificos muito mais desenvolvidos. Cabe aos países não entrarem em guerras mesquinhas de quem dispersou o vírus ou quem tem os direitos sobre a vacina e quem vai ser o primeiro à procura de louvores, em vez disso, unam os conhecimentos e recursos cientificos que possuam até porque uma vida não vale mais do que outra. E já perdemos demasiadas para este Sr. Dr. Covid.

Um especial obrigada a todos os médicos, enfermeiros, auxiliares de sáude, bombeiros, policias e militares, porque na hora do aperto são vocês que dão a cara e o corpo às balas por todos nós.